domingo, 22 de novembro de 2009

Os distúrbios causados pelo calor durante exercícios



Os distúrbios causados pelo calor durante exercícios

Com a chegada do calor, a prática de atividade física, principalmente quando intensa e de longa duração, requer que tomemos alguns cuidados para evitar distúrbios, que podem inicialmente causar apenas algum desconforto, mas que - se não forem controlados a tempo - podem ser gravíssimos, e até mesmo fatais. A temperatura ambiente e a umidade relativa do ar, quando elevadas, podem atrapalhar bastante nosso desempenho físico, além de colocar nossa saúde em risco. Nosso organismo pode tolerar uma queda na temperatura corporal de até 10oC, mas só tolera uma elevação de no máximo 5o C. Além destes limites, vários sistemas orgânicos são afetados, podendo ocorrer não apenas desconforto ou desmaios, mas também situações extremamente graves. Termorregulação: Em condições normais, nossa temperatura corporal é mantida em limites bastante estreitos, variando em torno de 36,1 a 37,8o C. Apenas durante exercícios intensos e prolongados, doenças febris, ou condições climáticas extremas, a temperatura corporal ultrapassa estes níveis. O centro de controle da termorregulação (regulação da temperatura corporal) fica localizado no sistema nervoso central, mais precisamente no hipotálamo. Atuando como um “termostato”, o hipotálamo pode corrigir a temperatura corporal tanto para mais quanto para menos. Para diminuir a temperatura corporal este sistema utiliza mecanismos de dissipação, que permitem eliminar o excesso de calor. Porém, quando a temperatura corporal começa a cair abaixo dos níveis normais, é necessário aumentar a produção de calor, e minimizar a sua dissipação. Ao receber sinais de que a temperatura corporal está aumentando ou diminuindo, o hipotálamo envia sinais para a circulação periférica, para que seja feita uma redistribuição do sangue, iniciando os ajustes necessários para a correção da temperatura corporal. Mecanismos de Dissipação do Calor: O aumento da temperatura corporal é sinalizado ao hipotálamo, que desencadeia um aumento do fluxo sanguíneo para a pele, de onde o calor do sangue pode ser mais facilmente dissipado para as camadas mais superficiais de tecidos. Ao mesmo tempo, as glândulas sudoríparas são acionadas para aumentar a produção de suor. A evaporação do suor é o mecanismo mais importante de dissipação do calor durante exercícios. Para que a produção do suor ocorra em sua plenitude, e que sua evaporação possa dissipar calor, é fundamental um bom estado de hidratação. As roupas também devem permitir a evaporação do suor, sem que o tecido permaneça encharcado. Só o suor que evapora permite o resfriamento da pele. O suor que escorre pela pele ou pela roupa não permite uma dissipação adequada do calor. Além da evaporação, há três outros mecanismos de dissipação do calor: radiação (o corpo irradia para o meio ambiente o calor acumulado), condução (transmissão do calor por contato direto do corpo com outras superfícies), e convexão: este último refere-se às correntes de ar e água, também importantes no exercício. Quando a temperatura corporal começa a baixar demais (hipotermia), é dado um comando pelo hipotálamo para que o fluxo sangüíneo para a pele diminua, mantendo o calor do sangue nas porções mais centrais do corpo e retardando assim a sua dissipação para o ambiente. Se isto não for suficiente, podem surgir calafrios, que são contrações musculares que visam produzir calor, ajudando também a elevar a temperatura corporal. Aclimatação e Treinamento: Os indivíduos que realizam exercícios em ambientes quentes precisam que seus organismos se adaptem ao calor. Com a exposição repetida ao calor durante os treinamentos ocorre a aclimatação. Este é um processo em que ocorrem várias adaptações no organismo, as quais permitem ao atleta poder realizar uma determinada intensidade de esforço em um clima no qual antes isto seria impossível ou intolerável. São necessárias cerca de duas semanas para que estas mudanças ocorram em sua plenitude. Duas das principais adaptações que ocorrem com a aclimatação são: - Aumento da capacidade de produzir suor (permitindo mais evaporação), e - Menor perda de sódio no suor dos indivíduos aclimatados. Indivíduos que vão competir em clima mais quente do que aquele ao qual estão habituados precisam aclimatar-se durante pelo menos cinco a sete dias. Os destreinados também têm menor tolerância ao exercício no calor. A adaptação ao frio é bem mais difícil e demorada, sendo por isto mais importante a utilização de roupas adequadas às baixas temperaturas. Tipos de Distúrbios pelo Calor: Podemos classificar os distúrbios causados pelo calor nos exercícios em três tipos principais: Síncope pelo calor Hipotensão postural pós-esforço Exaustão pelo calor Colapso pelo calor Síncope pelo Calor: Acontece nas pessoas que ficam de pé por longo tempo no calor (por exemplo, em paradas militares). É causada pela vasodilatação generalizada que provoca acúmulo de sangue nos membros inferiores e consequentemente diminuição do fluxo sanguíneo cerebral, podendo então ocorrer a síncope (desmaio). Hipotensão Postural Pós-Esforço: É uma redução na pressão arterial causada pela interrupção brusca do exercício (especialmente corridas de média ou longa duração), que pode causar síncopes, tonteiras e quedas. Pode ser evitada simplesmente com a redução gradativa do exercício durante alguns minutos, após o término da prova. Este fenômeno é mais intenso quando a temperatura ambiente encontra-se elevada. Exaustão pelo Calor: É definida como uma incapacidade de continuar o exercício no calor. Pode ser acompanhada de desmaio, confusão mental, ou hipertermia (aumento da temperatura corporal), porém nunca além de 40o C. O tratamento inclui retirar o indivíduo da competição, colocá-lo deitado com as pernas em um nível mais elevado que o do coração, em um ambiente bem ventilado, e à sombra. Pode ser necessário também resfriamento (ver abaixo). Colapso pelo Calor: Este é o quadro mais grave, constituindo-se em uma verdadeira emergência. Resulta da falência dos mecanismos de termorregulação, quando a produção de calor excede a sua dissipação. Por definição encontramos uma temperatura acima de 40o C (podendo chegar até a mais de 43o C), associada a alterações importantes do sistema nervoso central, (delírio, comportamento agressivo, convulsões ou até coma). Este quadro pode ser fatal se não tratado a tempo. O tratamento inicial pode ser feito no local, porém a seguir estes pacientes necessitam de tratamento hospitalar de emergência. Entre as medidas iniciais está o resfriamento rápido, podendo ser utilizada a aplicação de gelo no pescoço, axilas e virilhas, o uso de ventiladores, lençóis molhados, etc. O melhor método de resfriamento é a imersão em água com gelo, mas isto só deve ser realizado na presença de médico com experiência nesta conduta. A hidratação pode ser realizada por via oral se a vítima estiver consciente, e não vomitando. Caso contrário a hidratação deverá ser por via venosa. Assim que possível deve ser feita a remoção da vítima para uma emergência hospitalar. Prevenção: A hidratação adequada antes, durante e após a prova ou exercício, juntamente com a aclimatação, o treinamento adequado orientado por profissional capacitado, e o uso de vestimentas adequadas, são a base para a prevenção dos distúrbios causados pelo calor nos exercícios. Pode-se fazer uma hidratação prévia, ingerindo de 250 a 500ml de água 2 a 4 horas antes da prova. Durante o exercício, principalmente quando a duração for superior a uma hora, recomenda-se ingerir líquidos conforme a sede, não ultrapassando 800ml por hora (em média 150 a 300ml a cada 20 minutos).uma ingestão de 150 a 300ml de líquidos a cada 15 a 20 minutos. Após o exercício, a reposição é feita facilmente através da ingestão de alimentos da nossa dieta habitual, que é rica em sódio, acompanhada de líquidos em quantidades um pouco maiores, sem exageros. Estas orientações são de ordem geral, e não substituem a consulta ao médico assistente, ou a um especialista em Medicina Desportiva antes de iniciar ou modificar um programa de exercícios. Carlos Eduardo Camargo Cunha é especialista em Medicina do Exercício e do Esporte e Pneumologista.
Colaboração da Sociedade de Medicina do Esporte do Rio de Janeiro, SMERJ.

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