quarta-feira, 30 de março de 2011

Um exemplo de luta


Todos temos nossos sonhos, nossos problemas e momentos difíceis e quase todos temos objetivos. Poucos conseguem tornar seus sonhos realidade sem um caminho difícil, outros mudam o destino final quando encontram um obstáculo inesperado e outros, simplesmente, colocam seu coração, perseverança e dedicação em busca de um único objetivo – brilhar naquilo que fazem para ganhar a vida. Carlos Eduardo Rocha, o ‘Tá Danado’, um lutador brasileiro que vive na Alemanha e irá encarar Kris McCray em uma luta preliminar no UFC 126. Nascido em Cabedelo, mas criado nas ruas de João Pessoa na Paraíba, Carlos Eduardo, uma criança pobre e sem família, nunca se envolveu em coisas erradas. Ao invés disso, ele procurou sobreviver sem roubos ou drogas. Ele lavou pratos para ganhar algum dinheiro até ter a chance de se mudar para Fortaleza no Ceará. Essa é um assunto que o brasileiro, que mora em Hamburgo, Alemanha, não gosta de falar, evitando dar detalhes sobre o tempo em que ele tinha apenas as estrelas como teto. “Foi uma época que não gosto de lembrar nos dias de hoje. Prefiro olhar para frente e falar sobre como me sinto orgulhoso de ter sido acolhido pelo Darcio Lira”. Darcio, um instrutor tradicional de jiu-jitsu e líder da equipe que leva o seu nome, foi o cara que garantiu que o termo ‘vida nas ruas’ e o nome de Carlos Eduardo não fossem mais ditos na mesma frase. E o sonho de Eduzinho (como é chamado pelos amigos) começou a tomar forma assim que ele mostrou resistência e vontade nos seus primeiros treinos. Esses foram dois dos atributos que não apenas garantiram elogios do seu mestre, mas também o seu apelido – Tá Danado. “Eu era muito agitado no treino, então Dárcio me falou. ‘Ei, macho. Para de ser tão danado! Se acalme’. Eu estava lá sempre falando, brincando, então meus mestres Darcio e Darlynson me deram esse apelido”. Mas as dificuldades do brasileiro não terminaram quando ele começou a competir no Jiu-Jitsu. Seu time não tinha patrocinadores e logo ele percebeu que se quisesse fazer parte de um torneio, teria que fazer muitos esforços. “Jiu-jitsu não é um esporte barato em termos de entrar nas competições e viajar para os grandes torneios. E os torneios eram realizados em estados diferentes dos que vivi no Brasil. Eu só tive chance nas faixas azul e roxa para competir na Copa do Mundo de Jiu-jitsu”. E essas viagens que ele fez não foram em vão, pois Carlos Eduardo conquistou as medalhas de ouro. A segunda viagem lhe garantiu o primeiro lugar no pódio na sua categoria e no absoluto, fatos que levaram o lutador a sonhar com as lutas de MMA. Mas se o Jiu-Jitsu já era cercado de dificuldades, MMA seria ainda pior, pois treinaria treinar com uma equipe sem tradição nas Artes Marciais Mistas e sem dinheiro. Mas ‘Tá Danado’ continuou acreditando durante o caminho. “Eu já tinha meus ídolos: Rickson Gracie, Ricardo Arona, ‘Minotauro’ Nogueira, Mauricio ‘Shogun’ Rua e Rogerio ‘Minotouro’ Nogueira. Depois veio o exercito cearense no UFC. Eu falava com meus companheiros de equipe e dizia que um dia eu estaria no octógono. Eu treinei forte, bati em alguns caras e agora estou aqui”. Simples de descrever, mas não tão simples de realizar. Sem uma única de luta de MMA, ‘Ta Danado’ teve a oportunidade de fazer uma vida diferente na Alemanha. O cara que não tinha nada no Brasil, que limpava os tatames por pura gratidão aos seus mestres, recebeu um convite de um cidadão alemão que estava visitando o Dojo de Lira em 2007. A chance de começar sua carreira no MMA deixou o paraíbano de nascimento e cearense de coração com apenas um pensamento: é agora ou nunca. “Quando Kai Schreider me falou das condições, eu apenas peguei minha mochila e disse ‘vamos’. Ele tinha contato com um dos pioneiros da MMA na Alemanha, Andre Balschmieter, e eu finalmente comecei a dar aulas”. Carlos Eduardo nem pensou muito sobre as diferenças culturais, climáticas e a distância do seu povo, e ele sabia que enfrentaria pequenos obstáculos pelo caminho, mas o maior era mostrar ao povo alemão que artes marciais não era apenas um produto, mas sim algo com filosofia e respeito. Com sua primeira tarefa completada, a segunda – sua estreia no MMA – não aconteceu no seu primeiro ano na Alemanha. Mas Carlos Eduardo seguiu dando aulas até o dia em que foi para Dresden como o segundo de Balschmieter. Por conta de problemas medicos, o pioneiro do MMA alemão não pôde competir e ‘Ta Danado’ ficou com a sua vaga. “Eu não estava preparado tecnicamente, mas era o que eu queria fazer. Eles não queriam que eu competisse porque eu era um campeão mundial de Jiu-jitsu. Mas logo tudo ficou bem e eu finalizei um cara com um estrangulamento”. A primeira competição de MMA do brasileiro era para ser um torneio, mas com caras se lesionando durante a competição, ele apenas lutou uma vez. Bom, pois na final encararia um veterano com 17 lutas no seu currículo… entretanto, dois meses depois, a luta envolvendo os dois foi inevitável e o brasileiro mostrou a raça nordestina finalizando Steve ‘Machine’ Mensing com uma bem encaixada chave de perna. Com um recorde atual de 8-0, sendo sete vitórias por finalização, Carlos Eduardo é agora um grande ídolo na Alemanha. Dando aulas na X-Ess Fights Gym, academia que o amigo/irmão Willy Steinky conseguiu para ele, o brasileiro tem uma legião de fãs, e é atleta do UFC. Tudo isso podia força-lo a esquecer suas raízes, entretanto Carlos Eduardo ainda mantém relações com a equipe onde tudo começou. Na busca por lutadores experientes para treinar, ele chegou na Gracie Fusion no Rio de Janeiro, mas apenas depois de pedir permissão ao seu mestre Darcio Lira. E isso é algo raro de ver nos dias de hoje. “Roberto ‘Gordo’ Correa foi um cara que inspirou meu jogo no Jiu-jitsu e o seu time (Gracie Fusion) tem alguns dos melhores. O que eu vivi enquanto treinei no Rio foi a realização de um sonho. Eu via esses caras na TV e depois treinei com eles. Isso me motivou mais do que nunca. Para os fãs que procuram minhas lutas e só vêem finalizações, eu aviso – minha vida é um processo contínuo de aprendizado. Não foco meu treino em pés, pescoços ou braços. Eu estou entrando no octógono para mostrar o que um praticante de artes marciais tem de melhor – sabedoria”. Depois de seis semanas de treinamento, Carlos Eduardo se sente pronto para entrar no octógono na frente dos seus fãs na Alemanha. Lutando pela primeira vez na categoria até 77 quilos, ele revela o que o motiva ainda mais para a luta. “Meu empresário me disse que o contrato é de um luta apenas para me motivar, do tipo ‘vença a primeira e tenha outras’”. Eu não vejo McCray com as ferramentas para me surpreender. Bater esse ‘Tá Danado’ aqui não é fácil. Vamos impor 15 minutos de pressão sobre ele”.


Fonte: UFC